sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Encruzilhadas da vida


Status: Espirrando (se disse "saúde", obrigada)
Ouvindo: Origa - Baby Alone in Babylone

É engraçado pensar como a nossa vida parece um livro em branco, não?
Um livro que um dia se abre, e vamos escrevendo linha a linha, a caneta, sem poder apagar qualquer coisa mal-escrita que ficou nos parágrafos lá atrás...

Continuando capítulo por capítulo...
...página por página...
...até chegar à última delas.

Como em um texto, há um início. Há a apresentação dos personagens, há uma trama intrincada. Há momentos em que parecemos estar dentro de uma obra de Hemingway, em outras, em um conto de Nelson Rodrigues. Em outros, dentro de uma tirinha qualquer de jornal, em outros, de um mangá romântico. Mais que um livro, nossa história parece uma coleção, de histórias que vão se entrecruzando e fazendo sentido como retalhos fazem sentido em um cobertor, crossovers e mais crossovers. Às vezes há finais felizes, às vezes não. Às vezes sequer há um final, fica tudo em aberto. E, às vezes, surge um Deus Ex Machina, que parece não ter nada a ver com nada.

É um livro que não tem um clímax; tem vários deles. A história parece estar caminhando para um ponto...e...

Fiquei pensando nisso depois do que me aconteceu quarta-feira.
Eu estava dentro do 266 (Rodoviária-Cidade de Deus), indo na direção da Rodoviária, embora fosse descer antes, pois ia ao médico. O ônibus estava repleto de idosos, exceto por mim mesma e dois rapazes que também se sentavam no último banco do ônibus.

Eis que um deles se levanta, armado. Meu ônibus estava sendo assaltado.
Enquanto ele ameaçava o motorista, eu corri para atirar meus pertences sob o lugar onde eu me sentava. Ah, não! Não ia perder dinheiro, celular, relógio para aquele safado.
Estava bem protegida sob as poltronas altas do ônibus, e não podia ser vista.

No entanto, como já era de se esperar, eu não consegui esconder tudo, e aguardei por meu destino - com certeza, meu celular já era.

Eis, que...

...ele desce e não rouba nem a mim, nem ao cara do lado.

Não, não foi "Deus". Eu fui cagona, mesmo. E só.
Nem venham com papo de "Deus", afinal, todos os velhinhos no ônibus ficaram sem seus pertences, e o motorista também estava bem assustado e teria problemas.

Mas isso me fez pensar.

"E se...?"

E se ele percebesse minha movimentação?
E se ele tivesse vindo me roubar?
E se houvesse um policial no ônibus?
E se alguém tivesse reagido?

É tão engraçado como uma palavrinha a mais na frase daquele livro da vida poderia mudar todo o desfecho da história.

Todo o resto das páginas poderia ficar em branco para sempre. As minhas, ou as do motorista, as do rapaz ao lado, as dos idosos, ou mesmo as do assaltantes (quanto a essas, que pena).
Ou poderíamos ter protagonistas feridos, mutilados...
Ou mais! Uma pessoa comum poderia ter virado um herói.

Mas tudo transcorreu normalmente. Eu continuei escrevendo meu conto sobre tédio e revolta, os idosos escrevendo os seus sobre algo provavelmente desinteressante, o rapaz sobre algo comum, o assaltante sobre impunidade e coação, o motorista sobre exploração e cansaço...

E a vida continua...

Um comentário:

Ichtys disse...

Oiiii Muta.... ainda bem que suas páginas não ficaram em branco depois dessa!
E to aparecendo aki pra sem sua permissão escrever um poukinhu nelas!!!
to com a maior saudade de falar com vc!!!
Bjssssssssss!!! [Cogu] XD