domingo, 17 de fevereiro de 2008

Pede pra sair, zero à esquerda!



Ah, eu me divirto.

Engraçado. É a primeira vez que falo do Tropa de Elite neste blog. Acho que a blogosfera INTEIRA já tocou no assunto.

O que eu acho do filme?

Tecnicamente é ótimo. A grande atuação de Wagner Moura dispensa comentários. Roteiro simples, porém competente. Não tem os rebuscamentos típicos dos filmes americanos. É um filme "cru", e a proposta é exatamente essa. Mostrar o Rio de Janeiro cru.
Praias? Cristo Redentor? Pôr-do-sol? Bondinho? Bundas estiradas na areia?
Não, isso não aparece durante UM segundo do filme. O Rio de Janeiro idílico, aquele que aparece nas novelas ou nas propagandas de agências de viagens, a Cidade Maravilhosa dá lugar à Cidade do Medo - o VERDADEIRO Rio de Janeiro, triste verdade seja dita. A linda cidade onde criancinhas são arrastadas até a morte, outras baleadas dentro de suas casas, onde alguns policiais morrem como cachorros e onde outros vendem sua dignidade a um preço certamente maior que o que valem.


Mas esse não é o maior mérito do filme.
O grande mérito de Tropa de Elite é VINGAR o povo carioca. Ao menos o povo carioca de bem. E quando me refiro às pessoas de bem, eu excluo tanto os bandidos quanto aqueles que os defendem, que ao menos para mim são tão bandidos quanto eles próprios. Portanto, dispenso comentários do tipo "ei, me exclua disso, esse filme me fez mal". Fez mal a você porque você não tem CORAÇÃO, você não se comove com as diárias brutalidades que acontecem nesta cidade. Você não tem coração, não tem caráter e por isso pra mim é difícil diferenciar você de qualquer outro bandido que efetivamente puxe o gatilho. Você é uma espécie de assassino passivo.

O diretor e diversos atores, certamente com medo de serem tachados de "fascistas", logo se apressaram em dizer que essa não era a visão que defendiam, que era uma crítica, que na verdade defendiam a legalização das drogas, blá blá blá. O rótulo de "fascista" está cada vez mais perigoso desde que criminosos políticos anistiados quando do advento da "democracia" brasileira passaram a dominar diversas áreas do poder, incluindo o governo propriamente dito e mesmo a mídia. Desagrade a essas pessoas pra ver o que acontece com você. Seja um fascista ou um "fascista" e encare as conseqüências.

Mas na verdade, pouco importa se eles são fascistas ou não. O dever deles já foi cumprido.
A ótica do filme pouco importa. Foram os fatos ali retratados que conquistaram o carioca, o brasileiro.

Vivemos reféns.

Reféns de leis que não refletem nossa vontade. Leis tolas, infantis e mesmo desrespeitosas.
"Ah, mas foi o POVO que colocou os legisladores lá". Povo? Ah, aquele mesmo composto por analfabetos funcionais, que vendem seu voto por asfalto, comida ou Bolsa Família? Ah, tá.

Reféns de bandidos. Bandidos por todos os lados.
Bandidos que criam leis, bandidos que as põem em prática. Bandidos no poder que se unem para nos roubar, nos pilhar, nos escravizar. Bandidos que criam leis pensando em quando e como irão passar por cima delas depois. Bandidos que subverteram o Estado em uma Máfia altamente organizada.
Bandidos que usam desculpas esfarrapadas como cor, origem humilde ou infância sofrida como uma pretensa justificativa para oprimir, ferir e matar covardemente trabalhadores que, na maioria das vezes, não levaram vida melhor mas escolheram vencer de maneira honesta. Bandidos que não têm pudor de usar armamento pesado nas nossas barbas, como se fossem os donos desta cidade.
Bandidos que legitimam as práticas dos dois tipos de bandidos citados acima. Bandidos que criam livros, artigos; manipulam a educação, viciam a mídia, tudo para defender outros bandidos. Bandidos que são lobos em peles de cordeiro. São a pior escória, o pior tipo de bandido.
O primeiro tipo de bandido é aquele que todos sabemos que é, mas fingimos não o ser realmente.
O segundo é aquele que todos sabemos que é, declaradamente.
O terceiro é um tipo travestido de gente honesta, o que faz deles os mais perigosos, os verdadeiros inimigos desta cidade e deste país.


O mérito do filme, o que faz o carioca sorrir, é ver os três tipos de bandidos acima colocados NO SEU DEVIDO LUGAR.


O primeiro tipo é o Estado.
Todos sabemos que a polícia do Rio de Janeiro é uma instituição corrupta e falida, e o filme escancara isso. Dá um prazer enorme ver todos aqueles policiais corruptos comendo o pão que o diabo amassou enquanto tentam ser admitidos no BOPE.
O segundo tipo é...bem, não preciso explicar. Qualquer pessoa que já tenha se revoltado ao ver um "bonde do mal" na rua, ao ter que se jogar no chão por ouvir tiros à noite, fica feliz ao ver esses safados levando bala, saco plástico na cabeça ou seja o que for - TUDO é pouco pra eles.
O terceiro...ah, que delícia. Universitários maconheiros, hipócritas de ONG, queimando no microondas.

É o sonho de qualquer carioca de bem. É esse o efeito do filme, essa catarse.
Intelectualóides de plantão ficam chocados. E eu digo a eles: FODAM-SE.

Ficam chocados porque não SABEM o que é o Rio.
Sim, mesmo os intelectualóides que são cariocas não sabem. Vivem isolados em seus mundinhos acadêmicos, louvando seus deuses juristas, sociólogos e antropólogos mas não encaram a realidade: ESTAMOS EM UMA GUERRA.

Dizia-se que o público estrangeiro (leia-se norte-americano e europeu) não engoliria tão facilmente a violência como o carioca aceitou. Pensei eu, "Ora, claro que não. Eles vivem no mundo da fantasia. Os filhos deles irão crescer, ilesos e saudáveis, e provavelmente eles nunca ouviram o som de um tiro sendo disparado. O que eles sabem?"

Acertei em parte.

Um crítico americano na Variety já saiu esculhambando o filme. Não me surpreendeu em nada, um individuozinho mimado (Foda-se, "ohh ele é um crítico fodão". Pra mim crítico de cinema e nada é a mesma coisa, arte não deveria ser algo a ser analisado por uma pretensa e esnobe "nata", arte deveria ser ao mesmo tempo universal e única, acessível a todos mas atingindo a cada pessoa de uma forma diferente) trazendo à tona novamente o velho rótulo de "fascista". Aliás, ultimamente chamar algo de "fascista" soa como elogio aos meus ouvidos - não que eu concorde com os verdadeiros ideais fascistas, mas a esquerda atual aprecia colar esse rótulo em tudo o que contraria seus valores mais arraigados e odiosos.

Pensei que ia continuar nessa até que o filme foi COROADO ganhando o Urso de Ouro em Berlim hoje.

Claro que o filme ganhou por méritos puramente técnicos. Mas...acho que é um alento.
Esse prêmio trará ainda maior projeção internacional a ele, e o MUNDO conhecerá nosso sofrimento.

Quem sabe assim o mundo passe a entender PORQUE a violência que soa tão repulsiva a um americano rico, fútil e alienado soa como música aos ouvidos do povo carioca. Talvez entendam o porque de termos endurecido. O povo feliz, hospitaleiro se tornou desconfiado e triste. Não, nós não nos tornamos. Nós fomos tornados.

Parabéns a todos os que participaram do filme. Parabéns ao Brasil. E tenhamos esperança.


(obs. 1: Babaquices ofensivas serão devidamente ignoradas. Sim, EU fui ofensiva, mas é o MEU blog e eu ofendo quem eu bem entender)
(obs. 2: Eu ia colocar mais uma observação mas esqueci o que era. Quando lembrar edito isso aqui.)












Um comentário:

Ph disse...

Sim.


Por ser tão sincero e verdadeiro eu assisti oito vezes. Duvido muito que a nova versão seja tão fiel para o povo, vai ser apenas uma jogada de marketing barato (talvez até para gerar lucro com o sofrimento do povo).


Ainda assim, Tropa de Elite, parabéns por não esconder a verdade.