sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Apagando as velinhas. Ou seriam as velhinhas?

Ouvindo: Megan McCauley - Die for you
Status: Com uma pança enorme...enjoada...não, não estou grávida, só acho que comi demais.


Não, não é meu aniversário.

E eu diria: "felizmente". Afinal, é público e notório o pavor semi-patológico que tenho de envelhecer.

Se eu acreditasse em videntes (bem, na verdade, "se eu acreditasse em alguma coisa") e uma dissesse, "Bruna, você vai morrer amanhã", eu suspiraria e diria:

"- É, né? Fazer o quê."

Não tenho medo de morrer: a morte é, como diz a famosa citação de Fernando Pessoa, não ser mais visto, é a curva da estrada. É uma situação que todos que estamos vivos viveremos um dia - ou melhor, NÃO viveremos. É por isso que assusta a maioria das pessoas: é algo que não é uma vivência, uma sensação, é justamente a não-vivência, a não-sensação.

A não-existência. Para um ser vivo, cujo instinto máximo é o de auto-preservação, a idéia de não existir, de se decompôr e, como dizem os religiosos, "voltar ao pó", é realmente a coisa mais pavorosa do mundo. Não surpreendem, portanto, todas as explicações fantasiosas criadas para amenizar esse pavor, como as virgens que esperam pelos corajosos homens-bomba e o julgamento do Todo-Poderoso que leva os bons para o Céu e os maus para o Inferno - mito conveniente para fazer as pessoas pensarem que todas as injustiças serão corrigidas, um dia, por alguém onisciente.

No entanto, para um ateu, de forma geral, encarar a morte pode ser a coisa mais simples e a coisa mais difícil do mundo.
Se não acreditamos em deuses, somente resta a crença de que com a morte entraremos em um escuro, um sono sem sonhos do qual jamais acordaremos. Não há outros planos, outras vidas, continuidade - há apenas o fim. A curva da estrada de Pessoa, na verdade, para um ateu termina em um barranco.

A idéia pode trazer a mais perfeita paz ou o mais completo desespero.
Uma vez li que Darcy Ribeiro conversava com alguém religioso, pouco tempo antes de morrer, e essa pessoa dizia coisas no estilo "não tema, Deus está com você, blá blá blá". E o moribundo apenas replicou, às lágrimas: "Eu realmente queria tanto, tanto acreditar nisso".

É o preço da verdade.

Creio que alguém que morre achando que vai para o paraíso de um Deus misericordioso com certeza tem um fim menos atormentado que alguém que simplesmente acha que vai apodrecer
sob sete palmos de terra.

Claro, se for uma pessoa nesse estilo. Eu pertenço ao segundo tipo de ateu.

Dificilmente seria abalada pela idéia de apodrecer em um caixão. Eu imagino a morte como um sono sem sonhos, e só. Você simplesmente apaga, e só. Some. Não há porque chorar a perda de si mesmo - você só pode chorar a perda dos outros. Quando você se vai, não há motivo para angústia. Simplesmente acabou.

O fim. O fim de tudo. O fim de uma vida de agonia.

Sim, a morte pode não apenas ser uma idéia tolerável como até sedutora em certas situações. Que o digam os suicidas. (e que bom, aqui nem posso ser censurada como já o fui em alguns fóruns.)

Porém, o envelhecimento não é o fim. É o meio.
Se a morte é o destino de todos nós, a velhice é a estrada dura e tortuosa que nos leva em direção à curva que está lá, no fim. Uma estrada que começa bonita, iluminada, asfaltada, arborizada...com um horizonte que você nem mesmo consegue ver, mas que está lá, ao longe - e nem interessa vê-lo! Com tantas coisas interessantes para ver pelo caminho...tantas pessoas a seu lado...
Conforme o caminho prossegue, vão surgindo buracos...pedras...obstáculos...
E todos que caminhavam a seu lado vão embora, aos poucos. Até que, no trecho final, você vai, sozinho, arrastando-se pelo último trecho da estrada da vida, em direção àquela curva nítida no fim.

Não faz sentido temer a morte porque, a princípio, ela virá para todos nós (exceto o Bixu Lezadu), ou seja, não podemos ficar neuróticos tentando evitar o inevitável. Porém, o envelhecimento é uma desgraça QUASE certa - que pode ser evitada se você morrer jovem.

Só que aparentemente as pessoas não querem morrer jovens.
Aliás, elas não querem morrer. E o envelhecimento é justamente a decrepitude do corpo, que conduz à morte - neguem como quiserem isso com eufemismos politicamente corretos à vontade, que não vão mudar a realidade.

"Sabedoria", bah! Grande sabedoria você terá para compartilhar numa cama, usando fraldas geriátricas, sem sequer lembrar quem é você mesmo!

Não há NADA de bom em envelhecer. Nem mesmo é um grande feito - basta não morrer e você fica velho. Não entendo aquela pelação de saco com algumas pessoas que ficam muito velhas, tipo a Dercy Gonçalves, grande merda! Eles não fizeram nada, só não morreram, ué.

Ainda.
(porque se não morressem NUNCA, aí sim, eu dava meu braço a torcer)

Mas continuando...
Eu não agüento esses papos de "melhor idade", "a vida começa aos 40" (a mais hipócrita de todas, TSSSS)...até parece...todo mundo com 15, 20, 25 anos só ali, com as mãos suadas, trêmulo de ansiedade:

"- Não vejo a hora de começar a viver!"

Vão catar coquinho, vão.

Você que está lendo isso deve estar se perguntando: "Por que diabos a Aeris está tão revoltada hoje?"

Tipo, acabei de vir de uma festa de aniversário - a aniversariante em questão acaba de completar 51 anos de vida. Desejei a ela felicidade e saúde, e talz, e uma pessoa perguntou como ela se sentia aos 51 anos.

Resposta:
"- Ah, mais linda do que nunca! Agora, aos 51, eu me sinto mais mulher, mais segura."

PERAÍ, MAIS LINDA DO QUE NUNCA?!
Ah, não, eu não me conformei com essa frase, isso não entra na minha cabeça.
Precisava escrever um post para desabafar xD

Se bem que ainda tenho 23 anos.
Talvez quando chegar mais perto da curva da estrada possa ter mais legitimidade para falar sobre isso.

Sei lá.

Ah, que se foda xD

Um comentário:

Kika disse...

É, eu não concordo com você (jura?). XD
Tipo... envelhecer é um processo tão natural quanto saber que um dia vai morrer. E não é que a vida comece em tal idade. Acho que a vida é sempre se manifesta e não precisa de um momento específico. Felicidade não depende do tempo nem se a pele está lisa ou o peito levantado. Depende apenas do estado de espírito. Certamente se já há uma idéia fixa, quase uma bitolação de que algo é ruim, certamente será muito ruim. Bom, ninguém está livre de envelhecer e confesso que o que me assusta é a solidão que assola pessoas dessa idade. Mas acho que isso não deve servir de combustível para alimentar um medo insano e sim como algo que me faça tomar atitudes para que isso não ocorra.
Mas sei la´, vai que estou falando bobagem, afinal, também não tenho total crédito para falar sobre algo que ainda não vivi. XD