terça-feira, 11 de setembro de 2007

nAuM gOoxTüU dÍhH rÓoOtUuULUuÜxXx


Caro leitor, por favor, não feche a página.
Eu não virei emo.

Apenas usei a frase lugar-comum de todo emo (e de alguns góticos também, por sinal) para abrir o post.

(obs.: se você não conseguiu compreender, eu escrevi "Não gosto de rótulos." Sim, eu compreendo você, leitor, também odeio o miguxês do fundo do meu coração. Mas isso não vem ao caso agora.)

Hoje foi um dia caótico. Tive que passar o dia inteiro na faculdade para resolver problemas de reinscrição em disciplinas; passei o dia inteiro aqui e até o presente momento não tem NADA resolvido. Muito pelo contrário: parece que vou me ferrar de novo.

Mas tudo bem, já me estressei o suficiente, já chorei o suficiente. Agora, seguir adiante.

O fato curioso do dia é que uma colega, ao me encontrar, disse, olhando para meu cabelo e minhas roupas:

"- Você é meio punk, não?"

Cara, essa me matou de rir. Punk? PUNK?!
No dia em que acharem um punk direitista, me apresentem.

Tipo, eu gosto de algumas roupas, alguns penteados e alguns sapatos específicos, mas acho uma besteira atrelar seu visual a um determinado estilo de vida. Tipo, "sou gótico, por isso vou só me vestir de preto". Não! Veste-se de preto quem quer - góticos ou não - e pra ser um gótico você não precisa se vestir de preto. Conheço vários punks e góticos que não se vestem como o estereótipo de um e no entanto são punks e góticos mais verdadeiramente que muitos posers por aí.

Hoje em dia parece que tudo precisa ser nomeado, tabelado, classificado, credo.
Já viram a quantidade de "síndromes" que existem hoje em dia? Hoje a pessoa não tem mais tristeza, alegria, euforia, vontades: elas têm "síndromes", devidamente nomeadas e catalogadas por "especialistas". Antigamente, você ouvia a palavra síndrome e já sabia tratar-se de um problema médico: hoje a gente tem que prestar atenção, por que o que tem de "síndrome" criada por marqueteiro...

Acha-se explicação para tudo, até o que não necessita de explicação nenhuma. Exemplo: outro dia li no O Globo Online uma correlação no mínimo RIDÍCULA entre o modo que as mulheres comiam chocolate e suas vidas sexuais, sem o MENOR embasamento científico decente. Recentemente também foi constatado que a maioria das pessoas diagnosticadas com depressão na verdade estavam só tristes. Ou seja, essa é a ÂNSIA de transformar sentimentos em algo a ser estudado ou curado, em buscar explicações de impulsos e instintos físicos em algo estúpido como comer chocolate.

Parece que existe uma enciclopédia da vida e todas as pessoas parecem ansiosas para encontrar todas as respostas às suas dúvidas ali, prontas, é só abrir a letra "A" e você achou amor; como sentir amor, por que você sente amor, como se livrar de um amor indesejado...e, claro, citações de milhares de "síndromes": a síndrome de quem sente muito amor, a síndrome de quem chora por amor...etc..

Você abre a página "metaleiro" e acha uma descrição completa de como são e se comportam metaleiros, como se aquela fosse a fórmula pela qual seria possível conhecer todos os metaleiros pela simples e mera descrição de UM deles ou um padrão aproximado de comportamento e indumentária.

É por isso que, parafraseando os emos, eu não gosto de rótulos.

Pessoas não são como latas de ervilha em conserva, produzidas da mesma forma, com o mesmo conteúdo e com a mesma embalagem. Pessoas são diferentes, mesmo que na superfície pareçam iguais. Por mais semelhantes que sejam duas pessoas, elas NUNCA serão iguais. Dois góticos, dois emos, dois metaleiros, dois nerds, duas patricinhas podem ser semelhantes em alguma coisa sim, que é justamente o que motiva a tentação nas outras pessoas de colar-lhes um rótulo na testa.

Mas eles são eles mesmos, individuais e únicos.
A padronização não existe e a igualdade é apenas uma idéia tola que favorece ideologias nocivas.

Eu não sou punk nem coisa nenhuma.
Sou apenas a Bruna.

Prazer. ^^

Agora vou olhar as estrelas no céu. Todas brilhantes, azuis. Porém, todas diferentes, belas à sua maneira.

(obs.: são 15:25 e eu menti. não dá pra ver estrelas a esta hora, mas eu procurava um final poético pro post, perdão XDDD)

(obs. 2: segundo essa descrição da imagem eu pareço emo XDDDDDD)

13 comentários:

Kika disse...

O que não gosto em rótulo é que ele empobrece a forma de pensar. Pra que pensar quando se pode pegar um modelo pronto e aplicar a mesma coisa em tudo?
Mas é fato que modelo é algo que poupa tempo. Sou obrigada a dar aula apresentando modelos de como se escrever (e o absurdo foi uma menina me dizer que sabia escrever porque conhecia o modelo)! Tempo é dinheiro, afinal!
Aproveitando a idéia anterior... eu gostaria de saber a quais ideologias nocivas você se refere, embora, pelo contexto, eu já imagine. Poxa, você é capitalista e não tem nada que promova mais estereótipos do que esse sistema. E todos esses rotulados são frutos dessa organização da sociedade onde tudo se sistematiza, vira objeto de estudo e, quem sabe, serve até para que o mercado promova uma igualdade (não social, claro). O sujeito só é feliz se for magro e poder comprar mil coisas que não servem para nada mas o torna dentro de um meio social que valoriza tais produtos. E o que falar nas roupas que estão na moda? Tá, eu não acredito nesse negócio de "eu tenho personalidade". E falando nisso, a igualdade está em sermos todos humanos e termos as mesmas necessidades. Nesse ponto sim somos iguais, sem exceção. E sei lá, somos diferentes mas acho que pensar nas diferenças é algo bem masi perceptível do que pensar nas semelhanças.

Mas sei lá, gostei desse seu post e até concordei com ele... exceto com final. XD

Bixu Lezadu (original) disse...

E aos inrotuláveis eles sempre reservam ao menos um rótulo:

LOUCOS!


(E suas devidas derivações... xD)

Bernardo disse...

O argumento contra o comunismo de que "somos todos diferentes" é um dos lugares comuns mais batidos e rasos de toda uma discussão que se desenvolve entre os mais renomados intelectuais.
Imagino que os sofistas defensores do feudalismo tentaram deturpar os ideais iluministas("igualdade entre os homens? Que absurdo, é totalmente anti-natural!") da mesma forma, os conservadores pouco mudam ao longo da história.
O ponto é que quando falamos em igualdade, não estamos sugerindo que todos deveriam usar um só modelo de roupa. O debate entre o coletivo X individual, quando aprofundado, torna-se realmente interessante. Por isso realmente desanima ver uma garota inteligente como você desperdiçando atp na planice dele, ao tentar relacionar o ato humano de rotular o outro com o desenvolvimento de toda uma ideologia incrivelmente complexa.
O rótulo simplesmente nos permite julgar aquilo que não conhecemos e não desejamos conhecer, por medo ou comodidade. Depois de todo um post contra esse ato pouco aconselhável, você termina por rotular uma cadeia de pensamento que envolve o trabalho de toda a vida de alguns dos maiores gênios da humanidade.
E aí nem entra "só" o comunismo e suas milhares de (diferentes) vertentes, mas o trabalho de não sei quantos filósofos que ousaram "errar" que os seres humanos talvez não fossem ilhas. Meu conceito de igualdade é diferente do seu, que por sua vez difere do de um senhor feudal, enfim.

Vinícius "Ness" disse...

E aos inrotuláveis eles sempre reservam ao menos um rótulo:

LOUCOS!


(E suas devidas derivações... xD) [2]

Repito o mesmo! akakaka

Ótima postagem Bruninha, foi um inteligentíssimo post, bem interessante e um ótimo chega pra lá aos fabricantes, digo, rótulistas. Cada um é cada um, não existe estereótipo de pessoa já definido. Pode se coincidir, mas nunca é igual.

Beijin! ;**

[Tu anda sumida!!! =| ]

Bernardo disse...

Acho que o onze de setembro acabou com o meu temperamento, não gostei muito do meu comentário anterior, mas ainda acho que ele merece existir.
Claro que os seus argumentos vão muito além daquele pontapé inicial, mas o uso dele no final de um post falando sobre rótulos foi um ótimo exemplo de retórica usada para ganhar discussões(para si mesmo)
Imagine que eu comece a falar sobre o warcraft, em como que ali precisamos agir em grupo, confiar a vida ao companheiro de equipe...blablabla whiskas sachê...e termino com um lindo "e é por isso que a filosofia do Nietzsche está errada, por se basear na teoria da vontade de potência".
Seria absurdo, eu estaria escrevendo sobre um assunto desconectado e no qual a maioria seria levada a crer no que digo, e do nada termino concluindo sobre algo muito maior do que o tema do qual tratei, equivocadamente. Afinal, estaria interpretando a vontade de potência de uma forma quase literal(ou seja, errada), esquecendo que o Nietzsche é um gênio e que escreveu muito mais do que algumas frases desconexas e vazias sobre o comportamento humano e suas relações com o outro. Se eu me desse ao trabalho de ler MUITA coisa que ELE PRÓPRIO escreveu, quase com certeza respeitaria suas idéias, mesmo que não viesse a concordar com elas.
Blog é um espaço para polêmicas e opiniões explosivas, com certeza. Mas na hora em que quiser jogar uma enorme parcela da produção intelectual humana na lata do lixo, pode contar comigo para escrever um comentário muito mal educado lembrando que pretenção tem limite.
Ah sim, o caso do Nietzsche é meramente ilustrativo, gosto muito desse filósofo, o respeito imensamente...e concordo ao mesmo tempo que não concordo com todas as suas idéias das quais tive conhecimento através de alguns(poucos) livros dele que li.

Aeris disse...

Vamos às réplicas...ai, ai.

Começando com a Kika:
O capitalismo promove estereótipos sim.
Eu nunca fui contra a promoção de estereótipos, acho que tudo o que se vende deve ser produzido. O que eu acho errado é que as pessoas simplesmente engulam TUDO o que lhes é apresentado, sem discernir o que é real e o que é mero marketing.

Resumindo, eu não critico o cara que bota um cara lindo e sarado num comercial de cigarros, eu critico o otário que compra a idéia. Capisce?

O cara que inventou a sistematização das coisas, como eu disse no meu post, é um marqueteiro, ele quer vender, e em uma sociedade capitalista isso é perfeitamente plausível. Mas isso tem que ser encarado como o que é, ou seja, estratégia de venda e obtenção de lucro, e não visto como se, em profundidade, ele fosse o que aparenta ser na superfície.

Foi isso o que eu quis dizer.
E isso se aplica especialmente à moda: eu não tenho nada contra quem FAZ moda, cria tendências; eles estão fazendo o trabalho e o papel deles. Tenho, sim, contra os losers que se vestem de acordo com o que meia dúzia de bichas querem.

Quanto à obesidade...não simplifique, Érica, a questão vai muito mais longe do que mera padronização. É saúde, é uma estética que não é ditada só por tendências culturais - é algo natural e, porque não dizer, para a alegria do Bê - ÓBVIO =*

Discordo: igualdade e semelhança não é a mesma coisa. Se nós temos uma coisa igual e outra desigual, somos DESIGUAIS, no máximo semelhantes. Por isso, não acho plausível dizer que somos iguais porque somos todos humanos e temos as mesmas necessidades - aliás, NEM temos as mesmas necessidades, porque se assim fosse, pensaríamos todos da mesma maneira a respeito de tudo.

(obs.: também me chamam de louca...nunca pensei nisso como um rótulo, é verdade xD)

Quanto ao comentário do Bê...
Sim, é um lugar-comum; mais que isso, é onde toda a discussão se inicia e é a base do FRACASSO da ideologia que você ama tão ardentemente. E, mesmo sendo o argumento mais simples, básico e óbvio, você falou, falou, falou e não disse nada: onde você derrubou esse argumento tão simplório e ruim no seu comentário? Não li, aponte para mim, por favor.

Acho também curioso que você critique meus posts e minhas "certezas", mas o uso do termo "sofista" para designar pessoas com as quais você não concorda também deixa evidente sua arrogância a respeito do tema. Isso, aliás, se tornou recorrente em esquerdistas: o cara que concorda com eles é inteligente, gênio, esperto. O que discorda deles é um burro. Mas o que fazer quando o burro traz argumentos que eles não conseguem refutar? Ah, claro, esse é um burro SOFISTA: ele usa argumentos vazios, não fala coisa com coisa, vence a discussão sem ter razão. SEI.
Não se preocupe, vou continuar feliz sendo uma versão século XXI de uma sofista feudal enquanto puder ver posts raivosos como o seu, que atacam, atacam, atacam mas não acertam NADA.
E outra: eu estava discutindo sobre roupas e rótulos, jamais foi minha intenção aprofundar o assunto em comunismo x capitalismo, quem aprofundou o assunto foi VOCÊ, então não venha com essa de que eu estou gastando atp em algo inútil, porque a proposta do post foi EXATAMENTE discutir inutilidades. Apenas soltei uma pequena frase inocentemente no final. Se deixei você com raiva, perdão.

E eu não rotulei ninguém. Eu falei alguma coisa? Quando eu quiser falar sobre seus amados gênios, eu abrirei um post só para criticá-los, nada me daria mais alegria. Então, PARE DE COLOCAR PALAVRAS NA MINHA BOCA, porque você sabe que eu detesto isso.

E outra: se eu quisesse discutir, eu estava em um fórum, não em um blog. Eu abro um blog para que as pessoas leiam e comentem: não estou discutindo com ninguém, estou meramente expondo o que eu penso. Por isso, não tenho porque usar recursos retóricos sofistas (como novamente você deixou a entender) para ganhar uma discussão que simplesmente não existe, pelo simples fato de este ser um blog e pelo simples fato de eu ter aberto o post falando de emos e roupas e só por causa de uma frase ter dado nisso.

Seu exemplo não foi bom, sequer você disse qualquer coisa sobre o assunto de que está tratando, se meu post foi absurdo, seu exemplo não foi menos. Quero saber como de Whiskas chegou-se a Nietzsche, aí posso emitir uma opinião.

E, a propósito, apesar de seu post denotar que sou uma ignorante, pode ter certeza de que andei lendo MUITO sobre o assunto, e que a cada livro que leio me desloco mais à direita e a cada linha que eu leio vejo mais e mais evidente a hipocrisia de alguns autores. E não, não estou a fim de determinar quais são, você é inteligente e sabe. Se me der vontade, em um post posterior eu o faço.

Quanto a ser pretensiosa...
Talvez. E pode ficar lembrando, 1, 10, 100 vezes...não vai adiantar nada, perda de tempo sua.

E também gosto de Nietzsche, concordo com muitas de suas idéias. Embora também não tenha lido tantos livros, apenas dois (Além do Bem e do Mal, Assim Falou Zaratustra).

Kika disse...

Poxa, não temos as mesmas necessidades? Então há pessoas que não precisam se alimentar? Ah, Bruna, convenhamos que o que se vê é uma criação de falsas necessidades. Qual a necessidade de ter um celular que só falta andar? Engraçado que se chama celular de uma necessidade.

E claro que a questão de ser magra é meramente por conta da saúde. Isso é óbvio! Na boa, o padrão de beleza já foi outro, com mulheres com mais gordinhas... teríamos evoluído a ponto de perceber que o ideal é ser magro? O que se vê é gente fazendo mil lipos, tomando, mil remédios, fazendo mil dietas sendo que essas mesmas pessoas estão dentro do peso ideal (caso contrário, teríamos uma legião de obesos). E elas fazem isso porque querem estar em um padrão que é veiculado para todo mundo. Por que não ser linda e magra que nem todas as atrizes da TV?

E será que o cara não consegue discernir o que deve comprar ou não por que é um otário? Engulimos coisas o tempo todo, coisas que compramos para estar dentro de uma sociedade que exige tal coisa. E não sou prepotente a ponto de chamar o outro de otário quando faço a mesma coisa, sigo o rebanho. As pessoas são quase que programadas para pensarem de tal forma e serem de tal forma em uma sociedade onde tudo é o modelo. Há modelo para prova, há modelo de aula, há modelo de como se vestir, se portar, há um modelo de "pensar"... quem pensa? Então é uma questão muito maior do que o fato de o cara ser ou não um otário.

Vendo o rumo de como anda tudo isso por aqui, vou me abster de fazer outros comentários tão longos quanto os que venho fazendo. Eu nem ia responder mas aquele "capisce" e "óbvio" me provocaram. XD

Ah, Bruna, você não está mais apenas expondo seus pensamentos a partir do momento em que se dá o trabalho de responder a cada linha de quem comentou. XD

E tipo... péssimos comentários, Bê.

Bernardo disse...

Bom, eu realmente não derrubei nem pretendi derrubar o argumento de que os homens são diferentes com base em avaliações adolescentes sobre rótulos e tribos. Criquei o post em si, não desenvolvi uma discussão pois não havia o que ser discutido. Agora há.
Nunca duvidei da sua inteligência ou do quanto que você leu. Não preciso de lista ou teste de qi, eu sei ler. Mas isso não significa que todos os seus posts serão geniais ou coisa assim. Mesmo sendo raso e não aprofundado, nada contra, você mostrou algo que fez questão de frisar nesse começo de comentário: "Minha ideologia"(qual? é mesmo comunismo? que tipo? o que ela envolve?) "fracassou"(sob que circunstâncias? É algum tipo de jogo, deve ser avaliado por um contexto histórico, social, cultural...biológico?)
O que significa dizer isso para você? Se fracassou, naturalmente você não deveria se dar sequer ao trabalho de conhecer, pois de fato já a conhece. Pode ler o que for sobre o tema sem dúvidas, passar um texto inteiro sem ter aquele momento legal em que passamos a entender algo realmente novo e importante. Não, são pessoas ultrapassadas, um pensamento ultrapassado. Existe uma maneira certa de se pensar, a verdadeira...não é o que se conclui com o uso dessa biosociologia que tão conveniente assume as lacunas que você deseja? Se é para pensarmos em evolução, não poderia ser para com as formas de se organizar uma sociedade?

Hobbes não estava errado, Malthus não estava errado, nem os fisiocratas estavam errados...suas ideologias não fracassaram, estão vivas, hoje. É parte do que pensamos, da tomada de decisão dos seres que convivem em sociedades ocidentais. Veja só, rótulo vai além de classificar alguém numa tribo. Quando você coloca o de "fracasso" na produção intelectual de um gênio(os meus vão muito além do que você julga, por ironia o Stuart Mill está firme e forte nessa lista), você está cometendo um crime contra si mesma, se negando a aceitar um aspecto dos multi-facetados seres humanos.
Nós não seguimos uma lógica, somos coisas opostas, ao mesmo tempo. Pode se deslocar mais e mais para a direita, nada contra isso, mas nada impede que você reconheça a razão que está no outro lado. Isso é muito importante, essencial. No dia que eu parar e disser que o Adam Smith não passou de um simplório E hipócrita, vou estar me enterrando com uma lápide "aqui jaz uma tentativa de economista". Em direito deve haver muitas linhas a serem seguidas. Você é inteligente, pode aceitar apenas uma como verdadeira e todas as outras como mera hipocrisia, terminar a faculdade muito bem e excercer sua carreira sem muitas dificuldades. Mas se dispor a produzir conhecimento ou tornar-se aquela juíza que causa respeito até para os seus adversários, só reconhecendo que a razão se encontra em todos os lados. Até com os fisiocratas.

A igualdade...não vai dar para começar a falar dele se não ficar claro que Marx é um materialista dialético. Não é igualdade de desejos, todos vão ter que aprender a gostar de ir ao parque no domingo às 2 da tarde. É igualdade social, uma sociedade sem classe, as pessoas simplesmente trabalhando para sustentarem umas as outras. Esse é o básico do básico, e o por que da minha arrogância. Aliás, uma coisa muito boa quando não vamos nos afundando em um desprezo ao pensamento do outro, é que vamos encontrando inúmeras similaridades nesses pensamentos. O próprio Adam Smith costuma estar em muitos pontos mais para Marx do que para Hayek. O criador do conceito de "mão invisível" não negava a presença do Estado se fosse para promover a igualdade social, e encontrava no trabalho a razão do valor das mercadorias. Só um pequeno exemplo do que perderia caso taxasse o capitalismo como modelo fadado ao fracasso.

Bixu Lezadu (original) disse...

Btw, lá vou eu meter o bedelho onde não é chamado...

Concordo no ponto qu a Bruna fala que não temos todos as mesmas necessidades. Pois, embora algumas delas sejam comuns, nem todas as são. Eu, por exemplo, estou fazendo vinte e seis anos exatamente hoje, e sequer sei dirigir quanto menos tenho habilitação para tanto. Dirigir foi REALMENTE necessário para mim nestes últimos oito anos? Talvez até tenha sido em algum momento em particular, mas no geral, NÃO!

Mas, como boa pessoa graduada na área (técnica) de Administração de Empresas, sei que - além das necessidades ABSOLUTAMENTE básicas como Alimentação e Descanso (convenhamos: não precisamos de realmente MAIS NADA além de comer, beber água, respirar e dormir! Nem mesmo sexo!) - quaisquer outras necessidades são provenientes da psiquê humana. Psiquê esta que pode ser fácilmente manipulada por aqueles que desejam e sabem fazer esta manipulação.

E, olhe que interessante, a função de um Administrador de Marketing é justamente transformar desejos e vontades em necessidades!

Diante disto, há umas três possibilidades:
1- Ver que aquele desejo/vontade, se satisfeito, trará melhorias/conforto na sua (agora já classificado como estilo de, não apenas) vida e integrá-lo à mesma;
2- Ver que aquele desejo/vontade, se satisfeito, NÃO trará melhorias/conforto na sua (agora já classificado como estilo de, não apenas) vida e NÃO integrá-lo à mesma;
3- Seguir as "tendências" e integrar o desejo/vontade em sua (estilo de) vida para manter o NÍVEL SOCIAL DESEJADO. É o caso das famosas "maria-vai-com-as-outras"...

O maior problema de quem adota a terceira opção geralmente é a troca da formação de opinião própria em detrimento à auto-integração social. Pois isto acaba prejudicando à propria pessoa e também a(s) sociedade(s) onde esta vive. Já quem adota a primeira (ou a segunda, dependendo do caso), geralmente o faz pesando a relação custo-benefício envolvida. Mesmo que seja apenas socialmente, há uma tênue, mas fundamental, diferença entre este(s) e o terceiro caso.


PS: Coloquem sob este prisma de pensamento o caso sobre a obesidade - até onde é necessidade real, e até onde é desejo/vontade? E mais: até onde isto é feito para o próprio bem-estar, e até onde isto é direcionado para a integração social?

Um regime que a pessoa precise vai, sim, (re-)integrá-la socialmente. Mas na maioria das vezes a meta é a melhora da QUALIDADE DE VIDA da pessoa. Da mesma forma que no caso de uma Lipo os papéis se invertem: há melhora da qualidade de vida, mas a meta é a (RE-)INTEGRAÇÃO SOCIAL! (Claro que toda regra tem sua excessão. Perguntem à Bruna se todo mundo morre!)


PPS: Sobe sofismo e Nietzche prefiro me reservar ao anonimato: não tenho uma formação TÃO plena nessa área a ponto de me dar segurança de opiniões!

Aeris disse...

Repetindo, Érica: igualdade não é a mesma coisa que semelhanças.
O fato de todos nós precisarmos nos alimentar, dormir, ter relações sexuais (quase todos xD) e fazer necessidades físicas não nos torna iguais, é apenas um aspecto no qual coincidimos. E se coincidimos em um aspecto mas em outros somos diferentes, nós já não podemos ser iguais, no máximo PARECIDOS, e olhe lá.

Não acho que existam falsas necessidades. Você sabe dizer, Kika, qual é a nossa missão no mundo? Duvido que saiba, e eu também não sei (fora procriar e levar DNA adiante). Portanto, o melhor que podemos fazer da nossa vida é sermos felizes, e para isso não há uma receita única (somos desiguais). Tem gente que é feliz tendo filhos, tem gente que é feliz trabalhando, tem gente que é feliz pintando quadros e tem gente que é feliz adquirindo objetos. Na verdade, a maioria de nós considera felicidade um pouquinho de cada uma dessas coisas, mais de umas que de outras, e mesmo excluímos algumas delas.
Se o cara vê um objeto interessante e quer tê-lo, isso pode ser um mero capricho, mas a partir do momento em que isso vai deixá-lo mais feliz, eu considero uma necessidade SIM porque a felicidade é nosso fim primário.

Só não acho que as necessidades devem ser absolutizadas, como se o fim último de todo ser humano fosse satisfazer suas necessidades, e isso estivesse acima de todo e qualquer valor. Não acho que vocês pensem assim, mas acho que os valores pelos quais vocês passariam por cima são diferentes dos que eu escolheria, e só.

Sim, a obviedade do padrão de beleza é flagrante pelo fato de que atualmente, ao menos nos países desenvolvidos e em boa parte da população dos países em desenvolvimento a desnutrição está dando lugar à obesidade. Se antes, em épocas em que a fome era um problema para a maioria esmagadora da população, uma mulher gordinha levava vantagens reprodutivas por aparentar ser mais saudável, atualmente, com a ameaça da obesidade, é lógico que as mulheres mais saudáveis pareçam ser as que NÃO são gordas.

As pessoas não decidiram trocar o padrão do nada, houve uma gradação. E isso é uma conseqüência dessa mudança de estilo de vida.

Eu chamo de otário sim, a aquele que não pensa no que está fazendo, age como um autômato, semelhantemente a um animal, sem o mínimo de reflexão, estilo "uso roupas verdes porque é a tendência da primavera-verão 2007". Claro que há a pressão para a adequação social, mas a pessoa pode equilibrar o peso dessa pressão e suas próprias escolhas e reflexões sobre o que consome.

(e não era uma discussão, Érica.
não ERA, claro)

E, enfim, parei com esse comment.
Próximo.

Bê, nem vem. Você não criticou meu post, você sequer falou sobre o assunto do post. Você simplesmente pegou uma deixa e começou a criticar coisas que sequer estavam em pauta. Mas enfim...

Não estou pedindo elogios ao meu post, se tem alguém que caga e anda pro que acham de mim sou eu (o que não me impede de ser muito crítica quanto a mim mesma, mas usando MEUS critérios e não os de outras pessoas).

Olha, Bernardo, como você mesmo disse, esse é um assunto que não pode ser desenvolvido de forma rasa, então eu não tenho como explicar em um mero comentário de blog o porque do fracasso da idelogia comunista. Aliás, só pra você saber, pra mim até houve um autor dessa linha que obteve TOTAL sucesso no que pregou: Gramsci. Então, vou me abster de comentar sobre isso, apenas finalizando que acho que não há motivos para considerar Smith um hipócrita, enquanto Marx ficava conjecturando sobre sistemas igualitários enquanto agia de forma racista (não me peça para reproduzir nada aqui, procure na Internet, se é que você não sabe ainda). ISSO pra mim é hipocrisia.

E só pra constar: nunca disse que o capitalismo era perfeito, nem que toda e qualquer busca de soluções de problemas sociais era algo ruim, como se eu fosse alguma espécie de Bicho-Papão.

Quanto ao post do Lezadu, concordo com 90%, exceto a parte da obesidade; de fato, há pessoas que fazem lipo buscando apenas a adequação social; no entanto, o fato de elas se sentirem gordas faz parte de um senso estético inerente à nossa condição humana, e a hipótese para isso que mais faz sentido para mim eu postei agora mesmo, acima. Portanto, ao emagrecerem, elas estão se adequando socialmente, mas também melhorando sua qualidade de vida, mesmo que a intenção inicial não seja essa.

Claro que eu excluo disso pessoas DOENTES, como anoréxicas, bulímicas e vigoréxicos.

Bernardo disse...

Ad Hominem, e daí que Marx comia a empregada, era sustentado pelo Hegel e chutava cachorro morto na rua? O fato do Einstein ter sido um machista que maltratava a esposa, ou da imensa maioria dos grandes gênios terem sido um imenso fracasso como pessoas invalida as suas idéias? Que absurdo,muitos filósofos e escritores viveram vidas solitárias, e escreveram muito sobre os homens e seu relacionamento com o outro. As pessoas são complexas E incoerentes em sua forma de viver e agir, e o trabalho intelectual dos gênios é o momento em que eles transcendem a mesquinharia do cotidiano de Caras. O ponto é; todo homem é produto do seu tempo e espaço, pelo menos em parte. Marx lutava pelo direito das mulheres, o que já é inacreditável naquele momento. O que não dá é para julga-lo(ou pelo menos, não a sua obra) através dos padrões morais de hoje, ou então teriamos que invalidar a obra de quase todos que viveram durante a escravidão(os poucos que lutaram pela libertação ainda teriam muitos dos seus conceitos e hábitos mal-vistos por nós)
Justamente sob a perspectiva do direito, entendo que o conceito de Hegemonia tenha uma importância clara e palpável. Gramsci viveu no mesmo século em que nascemos, viu a revolução russa...não dá para ficar comparando "vencedores" por pontos, quando temos uma escala temporal e perspectivas científicas com as quais lidar. Se fossemos seguir essa linha até o limite, seria inútil ler qualquer autor antigo, e não haveria necessidade de interdisciplinaridade. De qualquer forma, a maior parte dos marxistas reconhece que em se tratando de fazer a revolução, as idéias de Gramsci fazem mais sentido para o mundo atual. Até por que Marx, apesar de seu ativismo político, tinha uma visão extremamente cientificista do socialismo, a mudança de uma sociedade para outra é determinada pela sua infra-estrutura. Convenhamos que é pouco animador para qualquer um que não possa viver mais que cem anos.

Falei de outro tipo de rótulo, pensei que havia ficado claro no meu último comentário. Soou como agressão gratúita, por isso fiz questão de me explicar, e reinterar meu respeito por você. Fiz por que tive vontade, da mesma forma que escrevi meus primeiros comentários. Se realmente me preocupasse com alguma fragilidade de sua parte, teria me limitado exclusivamente ao assunto dos rótulos para com os indivíduos.

Vinícius "Ness" disse...

Existem necessidades desnecessárias, como saber dirigir, seguir um modelo de pessoa, ou quem sabe até, se vestir - cuma? Índios não vivem sem se vestir, só com poucos enfeites? Então!

Sim, capitalismo está diretamente ligado a todos os tipos de rótulações, pois para uma pessoa fazer parte da 'conserva' ela tem que ter dinheiro para bancar o 'líquido conservante', além de que, a nata de todo o leite que rege as rotulações, que vende os 'líquidos conservantes' e que o transforma em uma 'conserva'. Uma pessoa vira um Picles ou até um Raquio - sei lá como escreve o último - se ela segue extremamente e exageradamente algo inútil, de tão azedo, conservado, ardido e com mal-gosto para outros.

Sim, usei várias expressões figuradas nisto.

Bixu Lezadu (original) disse...

Ehrm... Muta...

Desculpa o "pentelhismo"...

Mas então você concorda CEM POR CENTO com meu comentário...

Você disse: "Quanto ao post do Lezadu, concordo com 90%, exceto a parte da obesidade; de fato, há pessoas que fazem lipo buscando apenas a adequação social; no entanto, o fato de elas se sentirem gordas faz parte de um senso estético inerente à nossa condição humana, e a hipótese para isso que mais faz sentido para mim eu postei agora mesmo, acima. Portanto, ao emagrecerem, elas estão se adequando socialmente, mas também melhorando sua qualidade de vida, mesmo que a intenção inicial não seja essa.

Claro que eu excluo disso pessoas DOENTES, como anoréxicas, bulímicas e vigoréxicos.
"

Enquanto eu disse: "Um regime que a pessoa precise vai, sim, (re-)integrá-la socialmente. Mas na maioria das vezes a meta é a melhora da QUALIDADE DE VIDA da pessoa. Da mesma forma que no caso de uma Lipo os papéis se invertem: há melhora da qualidade de vida, mas a meta é a (RE-)INTEGRAÇÃO SOCIAL! (Claro que toda regra tem sua excessão. Perguntem à Bruna se todo mundo morre!)"...

Ou seja: tanto uma quanto a outra são feitos para fins distintos. Mas ambas tem 'efeitos colaterais' que refletem os benefícios buscados pela OUTRA meta. Releia e verá que dissemos as mesmas coisas, só que de formas diferentes! ^___________^'